quinta-feira, 9 de julho de 2009

Waconã sim, e com orgulho!

Comunidade indígena recebe o projeto autorretrato e mostra um pouco de seus costumes. A história dos índios do nordeste também é narrada pelo cacique da tribo
Fotografia da colaboradora Marília Barbosa

A população Waconã Kariri Xucurú, viventes da aldeia mãe da Serra do Capela, em Palmeira dos Índios, é uma mistura de tudo que é encantador e místico. A atuação das crianças na execução das oficinas de fotografia foi definida pela equipe do autorretrato como exemplar. Entre outros aspectos, a organização e o trabalho coletivo, chamaram a atenção de nosso grupo. Donos de uma sabedoria ancestral, os mais velhos ensinam suas crianças a terem um bom comportamento, em atividades que exigem concentração e disciplina, da mesma forma que os libertam para curtir a felicidade e a pureza que os seres infantis possuem por natureza. A tradição de auto afirmação cultural é o primeiro ensinamento: todos são indígenas desde pequenos.
Fotografia da colaboradora Marília Barbosa

Tradições

Ao nascer, o setsô (menino) ou a setsônkia (menina) recebe um pequeno cocá ou tiara, que pode ser de palha ou de penas. Ao longo do desenvolvimento humano, a definição de sua personalidade dará cor e forma a indumentária. O mesmo conceito se estabelece para a pintura corporal escolhida. O cacique Waconã Manuel Celestino, conta que cada um de nós nasce com uma característica natural, que só vai se desenvolver ao longo dos anos. “A pintura do índio, assim como sua indumentária, representará sua personalidade”, afirmou. Durante as oficinas, a competição de arco e flecha foi uma das atividades mais vibrantes organizadas pela tribo. Antes do início, o pajé avisou: “A competição é para estimular o espírito guerreiro. O setsô precisa lidar com suas armas com a mesma competência que aprende para mexer no computador”, enfatizou. O prêmio – uma quantia em dinheiro – não era mais importante que o reconhecimento do vencedor diante de toda a tribo. Para as setsônkias, o desafio foi à produção de um artesanato, para ser usado como um enfeite nas mulheres. O mesmo prêmio ofertado ao melhor atirador de arco e flecha foi entregue a artesã, que confeccionou um prendedor de cabelo, feito com penas e miçangas.
Imagem da colaboradora Carolina Cabral
Fotografia da colaboradora Marília Barbosa
Fotos do coordenador Waldson Costa
Imagem da colaboradora Carolina Cabral
Durante as oficinas, as indumentárias da cabeça, competição de arco e flecha e as pinturas corporais foram apenas festivas

Saúde e espiritualidade

O amor e respeito à natureza são prioridades na vida dessa população. Usufruindo das tradições do uso das plantas medicinais, os Waconã só recorrem aos antibióticos em último caso. A fumaça também tem poderes sobre o espírito. A cada reunião, uma fogueira é acesa para a purificação do ambiente e das pessoas ao redor.
Fotografia da colaboradora Marília Barbosa
Foto de Patrícia Machado - assessoria
Gerações se purificam na fumaça

Religiosidade
Os Waconã, assim como a maioria dos indígenas no Estado, são católicos. “Desde 1.500 tivemos que aprender a misturar os rituais dos brancos com as tradições de nossos povos. Hoje, amamos nosso Deus, que é igual para todos os povos cristãos, mas o cultuamos de forma diferente”, esclarece Graciliana Celestino, filha do cacique. As festas sagradas acontecem numa reserva, onde, além dos índios, só entra quem for convidado. O local é aberto e contêm vários espaços, alguns coletivos, outros destinados apenas para homens ou mulheres. “A concentração para um contato direto com Deus se dá com os elementos da mãe natureza”, conta Graciliana.
Foto da colaboradora Marília Barbosa
Imagem de Patrícia Machado - assessoria
O início das atividades sempre pedem uma oração. Após a reza, o ritual é totalmente indígena

Memória

A língua materna dos indígenas está sendo estudada pelas crianças, através do Pajé Purinã Celestino, professor cultural da tribo. Festivos, coloridos e muito inteligentes, os Waconã conhecem bem toda a trajetória de suas raízes. Em depoimento, o cacique Manuel Celestino faz uma narrativa detalhando toda a luta dos povos genuinamente brasileiros, para o reconhecimento, manutenção e proteção dos povos indígenas no nordeste. Confira o áudio.
Cacique Waconã Manuel Celestino posa com os fundadores da aldeia mãe Serra do Capela


6 comentários:

  1. Bom dia, vim agradecer a visita ao meu blog e também pelas palavras deixadas. Voltarei pra ler-te com mais clama. Beijos no coração e uma linda quinta pra ti.

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  2. conocer este blog me ha permitido adentrarme en la cultura de otro de nuestros pueblos originarios y en el trabajo social y de divulgación que hacen Uds, que valoro y felicito. las imágenes hablan por si solas y las palabras ayudan y enseñan.

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  3. Muito interessante e ao mesmo tempo de extrema importância mostrar uma cultura tão proxima a nós alagoanos, até mesmo para sabermos que mesmo com 'avanços' ainda existem valores e tradições, que sempre nos ensinará!

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  4. Quiero agradecerte su visita y comentario, realmente hacen un estupendo trabajo con las comunidas y los documentales son excelentes !

    Felicidades por el trabajo.
    abrazos

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  5. Olá, meu nome é Herica, sou do Rio de Janeiro, sou neta do saudoso João Alfredo Correia. Meu avô faleceu 4 meses antes do meu nascimento, há 40 anos. Ele nasceu em Palmeira dos Índios em 1926. Não tenho nenhuma notícia de parentes dele. Minha avó, que era de Atalaia, já faleceu tbm e ela nunca os falou nada da família do meu avô, apenas que ele era índio de Palmeira dos Índios. Acredito que ele pertencia ao Povo Xucuru Kariri. E Deve ter parentes ainda por lá. Tbm sei que uma irmã do meu avô veio para o Rio de Janeiro, mas nunca tivemos notícias. Gostaria muito de conhecer meus parentes Waconãs.

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