Uma das idealizadoras do pastoril de Maragogi conta como a casualidade transformou um coral num grupo de dançarinas de um dos folguedos mais tradicionais do nordeste. Novidade é aprovada e emociona os pequenos
Que muitas das crianças envolvidas no projeto autorretrato não soubessem ou nunca tivessem manuseado um câmera digital tudo bem, os organizadores esperavam por isso. Mas o fato de que nenhum dos pequenos jamais tinha visto a apresentação de um folguedo bastante popular no nordeste, que existe e se apresenta em seu município há dois anos, pegou os coordenadores de surpresa. Organizado por duas mulheres que nunca experimentaram o prazer de dançar o pastoril durante suas infâncias, Cícera Ferreira e Marilene Cândido hoje se desdobram para manter viva a tradição de seus antepassados que ainda estão presentes, mas precisam passar adiante este conhecimento, para a brincadeira não cair no esquecimento.
O grupo – As senhoras acima frequentam e realizam atividades na mesma paróquia há muitos anos. “Esperava as crianças na porta da igreja para o ensaio do coral, quando Marilene passou e me cumprimentou. Comentei sobre a blusa azul que ela estava vestida, na mesma hora ela falou de minha camisa, que era vermelha. De repente, as duas pensaram sobre aquelas cores e veio a idéia: vamos criar um pastoril aqui!”, descreve Cícera, explicando que em seguida houve a elaboração do caderno de ouro, que serviu para batizar a criação do grupo e pedir ajuda financeira aos padrinhos, que assinaram atestando a contribuição para a compra das roupas das dançarinas. “Procuramos todas as pessoas da cidade, cada uma deu o que pôde”, diz Cícera. Ela ainda lembra que durante o primeiro ano aprendeu todas as músicas com dona Dudé, senhorinha considerada um dos patrimônios culturais imateriais de Maragogi e que infelizmente é pouco popular a nova geração. “Íamos para a sua casa fazê-la lembrar das cantigas, com um caderninho anotávamos tudo para passar as alunas”, lembra Cícera.
Um ano depois de muitas apresentações cantadas apenas no gogó, o pastoril ganhou um CD. “Com fundo musical fica mais fácil, as meninas não se esforçam tanto”, revela à organizadora, que na ausência da companheira Marilene observa todos os passos das pupilas. Perguntada sobre a popularidade do folguedo entre os pequenos, Cícera fica satisfeita e diz que ele é muito bem aceito entre as crianças. “Não temos dificuldade em encontrar meninas que se interessem pelo pastoril nem deficiência de público para prestigiar as apresentações”, relata. As maiores dificuldades do grupo são sem dúvida, a falta de incentivo dos gestores. Como não cobram cachê, tudo sempre depende de quanto se arrecada durante um evento. “Aceitamos qualquer quantia, o que vale é ajudar. Além da disputa de cordões – característica da brincadeira – está a vontade de manter e dar continuidade a esta manifestação cultural de nosso local”, declara Cícera. O pastoril é dançado o ano todo, mas é no período do natal e na festa do padroeiro da cidade, em abril, que o grupo realiza o maior número de apresentações.
Em Barra Grande – Os olhares curiosos para a novidade quebraram algumas expectativas que as crianças fizeram no que poderia significar pastoril. “Achava que era um pastor com ovelhas”, disse o pequeno Thierry dos Santos. Ao ser anunciada a apresentação e os fotógrafos preparados para atuar, houve total concentração de todos. As garotas foram retiradas da dança para posarem as lentes, as coreografias foram acompanhadas passo a passo, e os resultados podem ser conferidos nas quatro imagens selecionadas para a exposição. “Fiquei tão emocionado, com vontade de chorar”, revelou Miquéias Silva Santos. Ao final, muitos deles compreenderam a disputa dos cordões, e o papel das personagens no folguedo, alguns até declaravam com segurança suas preferidas. “Se tivesse 01 real colocava na cesta da florista”, disse Wesley Nascimento. As modelos fotografadas por nossos pequenos artistas não serão apenas vistas pelos outros, o grupo receberá um CD com as melhores poses captadas. Uma das maiores aspirações deste projeto é que todos os envolvidos se percebam personagens de seu próprio lugar e tempo. A satisfação sem dúvida é presenciar e colaborar para interações entre todas as conexões, usando a tecnologia para combinar a nossa diversa cultura popular, seja ela digital ou tradicional.
Patrícia Machado
Que muitas das crianças envolvidas no projeto autorretrato não soubessem ou nunca tivessem manuseado um câmera digital tudo bem, os organizadores esperavam por isso. Mas o fato de que nenhum dos pequenos jamais tinha visto a apresentação de um folguedo bastante popular no nordeste, que existe e se apresenta em seu município há dois anos, pegou os coordenadores de surpresa. Organizado por duas mulheres que nunca experimentaram o prazer de dançar o pastoril durante suas infâncias, Cícera Ferreira e Marilene Cândido hoje se desdobram para manter viva a tradição de seus antepassados que ainda estão presentes, mas precisam passar adiante este conhecimento, para a brincadeira não cair no esquecimento.
O grupo – As senhoras acima frequentam e realizam atividades na mesma paróquia há muitos anos. “Esperava as crianças na porta da igreja para o ensaio do coral, quando Marilene passou e me cumprimentou. Comentei sobre a blusa azul que ela estava vestida, na mesma hora ela falou de minha camisa, que era vermelha. De repente, as duas pensaram sobre aquelas cores e veio a idéia: vamos criar um pastoril aqui!”, descreve Cícera, explicando que em seguida houve a elaboração do caderno de ouro, que serviu para batizar a criação do grupo e pedir ajuda financeira aos padrinhos, que assinaram atestando a contribuição para a compra das roupas das dançarinas. “Procuramos todas as pessoas da cidade, cada uma deu o que pôde”, diz Cícera. Ela ainda lembra que durante o primeiro ano aprendeu todas as músicas com dona Dudé, senhorinha considerada um dos patrimônios culturais imateriais de Maragogi e que infelizmente é pouco popular a nova geração. “Íamos para a sua casa fazê-la lembrar das cantigas, com um caderninho anotávamos tudo para passar as alunas”, lembra Cícera.
Um ano depois de muitas apresentações cantadas apenas no gogó, o pastoril ganhou um CD. “Com fundo musical fica mais fácil, as meninas não se esforçam tanto”, revela à organizadora, que na ausência da companheira Marilene observa todos os passos das pupilas. Perguntada sobre a popularidade do folguedo entre os pequenos, Cícera fica satisfeita e diz que ele é muito bem aceito entre as crianças. “Não temos dificuldade em encontrar meninas que se interessem pelo pastoril nem deficiência de público para prestigiar as apresentações”, relata. As maiores dificuldades do grupo são sem dúvida, a falta de incentivo dos gestores. Como não cobram cachê, tudo sempre depende de quanto se arrecada durante um evento. “Aceitamos qualquer quantia, o que vale é ajudar. Além da disputa de cordões – característica da brincadeira – está a vontade de manter e dar continuidade a esta manifestação cultural de nosso local”, declara Cícera. O pastoril é dançado o ano todo, mas é no período do natal e na festa do padroeiro da cidade, em abril, que o grupo realiza o maior número de apresentações.
Em Barra Grande – Os olhares curiosos para a novidade quebraram algumas expectativas que as crianças fizeram no que poderia significar pastoril. “Achava que era um pastor com ovelhas”, disse o pequeno Thierry dos Santos. Ao ser anunciada a apresentação e os fotógrafos preparados para atuar, houve total concentração de todos. As garotas foram retiradas da dança para posarem as lentes, as coreografias foram acompanhadas passo a passo, e os resultados podem ser conferidos nas quatro imagens selecionadas para a exposição. “Fiquei tão emocionado, com vontade de chorar”, revelou Miquéias Silva Santos. Ao final, muitos deles compreenderam a disputa dos cordões, e o papel das personagens no folguedo, alguns até declaravam com segurança suas preferidas. “Se tivesse 01 real colocava na cesta da florista”, disse Wesley Nascimento. As modelos fotografadas por nossos pequenos artistas não serão apenas vistas pelos outros, o grupo receberá um CD com as melhores poses captadas. Uma das maiores aspirações deste projeto é que todos os envolvidos se percebam personagens de seu próprio lugar e tempo. A satisfação sem dúvida é presenciar e colaborar para interações entre todas as conexões, usando a tecnologia para combinar a nossa diversa cultura popular, seja ela digital ou tradicional.
muito bonito o pastoril! mais bonito ainda foi vê o encantamento das crianças com a apresentação : )
ResponderExcluirParabéns pelo projeto ;) Sou fotógrafa e quando assisti ao filme Nascidos em bordéis, de Zana Brisky (já assistiu?) tive vontade de fazer uma atividade como esta. Se precisar de mais colaborações, pode contar: amanda.adsn@gmail.com
ResponderExcluirSucesso!